Utopium.
Não és. Não és quem dizem que és. Não és quem querem, esperam, rezam que sejas. Não és. Não tens que. Não tens que decidir a tua vida aos dezoito, aos vinte e dois, aos quarenta nem aos setenta sequer. Não são terceiros, quartos ou quintos que te irão impor vontades, desejos e delírios. Não são eles que descobrirão por ti, a utopia, mera quimera da alma, cuja essência surge no lado de lá do teu horizonte. Não são eles que te vão dizer como ver o mundo, como escrever, como perspectivar, como dilacerar a vida e colher dela a seiva da impetuosa felicidade. Muitos são aqueles que morrem aos vinte e cinco e são enterrados aos oitenta, sem fazerem aquilo que querem por lhes ser impingido algo que não são. Muitos são aqueles que passam Julho à espera de Agosto. E já que estamos presos ao âmago de não ser, tornarei o meu grito de silêncio audível. Não sou mulher de devanear futuros quando o passado espreita entre o breu do presente. Não sou mulher de aceitar que o façam deliberada...