Inebriante não-ser.
Não acrescento nada se não tudo à doçura amarga de quem vem, vai, nem cumprimenta nem se despede. Não acrescento nada se não o grito, ao silêncio que caminha pelo teu corpo e te percorre como aragem. Ainda agora partiste e és já uma memória desfocada. "Não vás porque a vida é aqui e o esquecimento é longe". As minhas palavras de nada valem. Caminha pelo teu corpo o silêncio. Como uma aragem, avanças devagar a percorrer um grande caminho. A tarde, morre de repente num silêncio como a tua aragem, onde fico morta, esquecida, mutilada, sozinha. “Amamos” até dilacerar a carne, tontear a alma e confundir a vida. “Amamos” a exagerar nas vírgulas e a esquecer os pontos. Nesses caminhos longos da existência haverão fragmentos de mim por toda a parte, lançados ao vento, em meio de vendavais, coexistindo entre o tempo e o espaço. A sensação de pertencer por onde se passa, não chegando a pertencer a lado nenhum, é anestésica. Pinto-me num outro corpo... Guardo se...