Fragmentos momentâneos.
Deparo-me frequentemente sem saber o que escrever. Ironia das Ironias sei sempre o que escrever quando não é propício tal. Então limito-me a inventar o que não escrever. Então hoje, não vou escrever que sou um desastre poético rabiscado e esquecido debaixo de outros papéis no fundo de uma gaveta qualquer. Nem que não passo disso, nem que nunca passarei disso. Não escreverei que serei apenas lembrada por breves instantes aquando daquelas limpezas anuais chatas. Que serei lembrada à força, será a minha presença imposta, fraccionária, momentânea e nada memorável. Não vou escrever. Quem disse que coexistir é viver? Não escreverei que é sufocar e submergir no esquecimento temporário mas eterno. Não vou escrever nada disso. Não vou escrever que sou fragmentos nada memoráveis. Não o vou fazer. Decido portanto escapar às leis que regem o esquecimento e, imortalizo-me no que escrevo quando não escrevo. Hoje, não o escrevendo.